A realidade partida da Esquizofrenia
A esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral e não ataca de uma vez, apresenta-se no decorrer do desenvolvimento humano, enviando seus sinais de acordo com as fases da vida. As características da doença alteram a forma de ser dos indivíduos entre o final da adolescência e o início da idade adulta, momento em que estes demonstram maior introspecção e isolamento, avançando para delírios de ideias e alucinações.
O famoso filme “Uma mente brilhante” retrata a vida do matemático americano “John Forbes Nash”, o qual fora considerado um gênio precoce quando aos 21 anos escreveu uma tese de doutorado de apenas 27 páginas sobre a teoria dos jogos, que revolucionou a economia. Porém sua criatividade se apagou aos 30 anos, quando começou a ouvir vozes e perdeu contato com a realidade.
A esquizofrenia é apenas um dos quadros de psicose, frequente na condição humana. Em nosso país cerca de 2 milhões pessoas são portadores dessa doença.
O motivo desencadeante deste mal é multifatorial, incluindo importante componente genético/ambiental e o os sintomas provocam alterações nas atividades comuns, influenciando nos estudos, trabalho e lazer, dificultando boa parte das relações sociais e familiares, pois acabam gerando comportamentos indisciplinados e fases de explosões com descontrole emocional.
SINTOMAS
No início da doença o sujeito pode sentir fortes características de tensão e ansiedade, as quais podem ser confundidas com depressão ou outros transtornos de ansiedade, podendo levar anos para se instalar por completo e dificultando diagnósticos, quando não consultados os especialistas da psiquiatria ou psicologia.
Os sintomas típicos da esquizofrenia geram dúvidas sobre a própria existência do sujeito, assim como explicações complexas sobre coisas simples da vida e necessidades de buscar grandes significados, o que acaba por comprometê-los socialmente ao demonstrarem interesses em temas exóticos, místicos ou filosóficos.
Tecnicamente podemos dividir os sintomas da esquizofrenia em duas formas: Os “sintomas produtivos” ou “sintomas negativos”.
Os sintomas produtivos respondem com maior facilidade aos tratamentos, são basicamente alucinações e interpretações delirantes dos próprios pensamentos. Neste caso, os delírios são caracterizados pela visão distorcida da realidade e sensações de perseguição, os quais geram grande tensão e desespero aos pacientes. Já no caso das alucinações, estas são provocadas por estímulos externos como ouvir vozes ou ouvir ordens que podem levar ao risco do suicídio.
Os sintomas negativos da doença são mais incapacitantes e resistentes aos tratamentos, pois se caracterizam pela diminuição dos impulsos afetivos e ocorrem no íntimo das pessoas, provocando isolamento, olhar distante, falta de importância com os acontecimentos ao redor, falta de cuidados básicos com higiene e alimentação. Internamente o doente sente que algo estranho está acontecendo, mas não consegue identificar e acaba perdendo a consciência crítica de que está adoecendo.
TRATAMENTO
Atualmente contamos com medicamentos evoluídos e de poucos efeitos colaterais, auxiliando muito nos sintomas negativos da doença. Porém, como os pacientes acabam perdendo noção crítica de si próprio, a ingestão de medicamentos torna-se prejudicada, motivo que provoca boa parte das recaídas da doença e parte do abandono ao tratamento, quando não devidamente acompanhado por familiares.
Como qualquer outra doença, quanto mais rápido se iniciar o tratamento, melhor, pois desta forma pode-se evitar maiores danos na vida e personalidade dos pacientes, preservando a imagem profissional e social destes.
Os familiares precisam ter consciência que estes pacientes são vítimas de reações neuroquímicas da doença e por isso não agem com maldade ou por falta de caráter. Infelizmente as pessoas que sofrem com a esquizofrenia não voltam a ser as mesmas de antes dos episódios e crises, desta forma é necessária a compreensão dos entes queridos na diminuição das expectativas em relação ao portador de esquizofrenia.
Os sujeitos acometidos pela esquizofrenia possuem grande potencial de vida, porém precisam lutar contra as dificuldades do transtorno, vencendo obstáculos e seguindo seus projetos de vida. A utilização de medicamentos, suporte psicológico e terapias de reabilitação podem ajudá-los na superação da doença.
Autor:
Estela Cristina Parra
Psicóloga Clínica e Organizacional
CRP: 06/119083