Ser ou não normal… eis a questão
O viver em sociedade (grupos) nos coloca imediatamente nesta posição meio que forçosa de ser normal, de ser igual aos demais, iguais aos que são considerados corretos ou admirados, talvez pelas suas atitudes ou pelas suas escolhas na vida. Ser normal seria isso? De forma que caso a ação do sujeito seja um pouquinho fora da linha já o faça se tornar um anormal ou louco?
Não seria uma injustiça querer escolher um suco de pêssego e acabar tomando o de laranja apenas por estar em um grupo de amigos que só tomam laranjada?
A ideia de normalidade possui ligação com o equilíbrio interno de cada pessoa. Depende ainda do bem estar de cada pessoa, das preferências e seria um tanto impossível tentar padronizar esta tal normalidade, pois os limites de cada um se tornam difíceis de serem identificados e talvez até fáceis de serem confundidos.
Socialmente ou culturalmente o normal seria tudo aquilo que está de acordo com uma regra ou um padrão ético ou moral, porém se pensarmos, somente nossos sentimentos como a alegria, irritação, medo, dor e angústia já podem provocar acontecimentos que sejam mal interpretados e vistos como anormalidade.
A linha de controle entre o que pode ser considerado normal e o que deve ser tido como anormal ainda é questão de discussão, pois todo ser humano necessita de determinada saúde, bem estar, utilidade, respeito pelos seus pensamentos e escolhas.
Quantas vezes ouvimos amigos dizendo que uma ou outra pessoa não está bem, não está normal porque se isola ou por que não se comporta como os outros acham que deveria ou se veste inapropriadamente? Isso se trata de julgamentos sociais que a maioria de nós faz, mas será que o correto seria uma vida exatamente igual a todos? Se fossemos todos iguais não estaríamos ficando todos loucamente iguais? Afinal nossa individualidade não é o que nos torna diferentes e interessantes?
Mentalmente se mantivermos comportamentos que batem de frente com nossas escolhas psíquicas podemos sentir tamanha angústia que podemos até preferir enlouquecer, já que a loucura é uma das formas de fugir do sofrimento e isso não seria mais anormal?
De acordo com uma passagem conhecida de Sigmund Freud, as pessoas doentes psiquicamente são aquelas que não conseguem responder por seus atos, comprometendo de forma irreversível a capacidade de trabalhar, amar e se cuidar. Estas pessoas não conseguem ter a liberdade de pensar, de decidir, liberdade de ir e vir, limitando-as de forma grave.
Certamente tudo isso não é tão simples como parece, porém não é impossível manter a saúde mental e convívio com os demais, mesmo que estando em meios mais agressivos e hostis. O primeiro passo é desejar esta harmonia e estar aberto para mudanças.
Devemos lembrar que a felicidade e o bem-estar devem estar em primeiro e único lugar e para se manter com saúde mental é necessário um processo de libertação de culpa ou submissão, permitindo-se corrigir algumas atitudes e se adequar a novas possibilidades.
Em situações que sentir angustia ou desespero busque conhecimento, busque ajuda profissional, pois sabemos que não vivemos positivamente de forma isolada. O objetivo da psicologia não está em eliminar todos os problemas e dificuldades do caráter humano para alcançar esta tal “normalidade” e sim o auxílio aos conflitos internos e promoção de melhores condições psicológicas.
A principal ideia de saúde é aquela que possibilita ultrapassar regras impostas, juntamente com a possibilidade de tolerar algumas outras no intuito de ser feliz!
Autor:
Estela Cristina Parra
Psicóloga Clínica e Organizacional
CRP: 06/119083