A DOENÇA DO SÉCULO: Estresse Ocupacional na Mulher Moderna

A DOENÇA DO SÉCULO: Estresse Ocupacional na Mulher Moderna
Artigo científico publicado em #www.psicologado.com

Resumo: De acordo com vários autores, o estresse, especialmente o estresse laboral atinge duramente a vida da mulher. Esta pesquisa apresenta como tema central o estudo do estresse na mulher em seu ambiente de trabalho e tem como objetivo verificar como a dupla jornada influencia na vida delas, assim como observar as consequências do estresse para elas. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa quanti-qualitativa, de natureza exploratória, com pesquisa de campo. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de um questionário composto por 14 questões em escala e uma entrevista semi estruturada contendo cinco questões, de natureza qualitativa acerca da influência do estresse em seus ambientes de trabalho e vida pessoal. Foram escolhidas aleatoriamente 20 mulheres, todas com dupla jornada, entre duas empresas distintas para responder aos questionários. A análise de dados foi realizada através da análise de conteúdo qualitativa das cinco questões da entrevista e uma tabulação de dados quantitativos, com gráficos, do questionário em escala, nos quais os resultados apontam para uma visão surpreendentemente positiva do trabalho, embora sejam observados todos os sintomas físicos e psicológicos do estresse nesta amostra. A dupla jornada afeta diretamente a vida familiar e social destas mulheres e os dados mostram que elas sentem-se cansadas, preocupadas e sobrecarregadas, mas possuem uma visão conformadora dessa realidade. Com estes dados, se percebeu a importância de um olhar diferenciado para a situação destas mulheres, prevenindo assim doenças causadas pelo estresse da própria angústia causadas por esta realidade.

Palavras-chave: Mulher, Estresse feminino laboral, Dupla jornada, Estresse.

1. Introdução

Estresse é um tema de difícil conceito, pois existem várias maneiras de ser entendido, assim como depende de cada organismo que o vivência e as formas que este possui em reagir contra os efeitos produzidos pelo agressor. Foi mais especificamente no campo da física que o termo “Estresse” foi, logo de início, usado para mostrar mudanças nos materiais submetidos há algum tipo de força e que desta forma sofreram mudanças em suas estruturas. Segundo Robert Hooke, o termo estresse designa uma pesada carga que afeta uma determinada estrutura física (LAZARUS, 1993). Desta forma, no século XVII, o estresse ficou caracterizado com o significado de “adversidade” ou “aflição”, sendo utilizado mais tarde como sinônimo de “força” ou “esforço”.

O tema “Estresse” tem sido abordado pela sociedade científica de forma completa e detalhada e tem sido internacionalmente utilizado para descrever uma sensação de desconforto, referindo-se a alterações fisiológicas decorrentes de mecanismos individuais de adaptação (MASSELLI, 2001). Atualmente, ele é um dos principais fatores responsáveis por transformações no estado de bem estar e saúde geral da população, podendo levar às doenças e até a morte.

Em estudos realizados pelo austríaco-canadense Hans Selye, (1965), renomado endocrinologista canadense, o termo stress foi inicialmente utilizado para designar as pessoas que sofriam algumas doenças e que apresentavam certos sintomas na composição química do organismo como: fadiga, hipertensão, perda do apetite e desânimo. Posteriormente esse mesmo termo foi utilizado para indicar uma síndrome produzida por agentes nocivos (PAFARO ; MARTINO, 2004).

Ainda de acordo com estudos de Selye (apud PAFARO ; MARTINO, 2004), o estresse pode ser classificado em três fases principais: fase de alarme, resistência e esgotamento, os quaisdeterminam os graus de agressão externa ao corpo humano, sendo considerados como uma “Síndrome Geral de Adaptação”, quando um corpo reage de frente às adversidades, porém resultando corpos com fragmentos nocivos em sua estrutura original, os quais ainda podemos classificar como reações psicossomáticas.

Novamente, seguindo as teorias produzidas por Selye (apud PAFARO ; MARTINO,2004), o estresse pode ser apontado como uma reação individual, podendo ser de dois tipos diferentes, uma delas trata-se da forma “positiva” do estresse, chamado de “Eustresse”, onde o indivíduo recebe descargas de adrenalina e sente-se estimulado a lidar com situações; em oposição, o estresse “negativo”, conhecido como “Distresse”, caracterizado por intimidar e provocar a fuga dos indivíduos, considerado como exagerado ou insuficiente para o organismo humano, trazendo malefícios a este.

Trabalhos iniciais desenvolvidos pelo Dr. Walter Cannon, fisiologista americano, a partir de estudos laboratoriais com animais, teceram uma série de considerações a respeito do estresse, visto como uma “síndrome de briga luta ou fuga”, reação originada pelo organismo humano para proteger-se das agressões externas consideradas estressantes, momento em que ficaram registradas as reações diretas deste fator estressante em glândulas adrenais, estruturas linfáticas e células brancas do sangue (FERREIRA, 2008).

Primeiramente, encontramos como definição de estresse, segundo Selye (apud PAFARO ; MARTINO, 2004, p.152) “uma reação do organismo que ocorre frente a situações que exijam dele adaptações além do seu limite”.

O estresse é o resultante da percepção entre a discordância da tarefa e os recursos pessoais para cumprir ditas exigências. Uma pessoa pode sentir esta discordância como desafio e, em consequência, reagir dedicando-se à tarefa. “Pelo contrário, se a discordância é percebida como ameaçadora, então o trabalhador enfrentar-se-á a uma situação estressante negativa, que pode conduzi-lo a evitar a tarefa” (SEEGER ; VAN ELDEREN, 1996, p. 213).

O estresse vem sido cada vez mais abordado dentro da comunidade científica e estudado em consequência ao seu impacto ruim no dia a dia dos indivíduos, incluindo a o bem estar e a saúde física e mental destes, e suas consequências negativas que se mostram também nos índices e desempenhos finais das empresas. Acerca desta problemática, Paschoal e Tamayo (2004) informa que na economia os impactos do estresse já apresentam resultados terríveis, pois o mesmo influencia diretamente os resultados de organizações, instituições, entre outros espaços.

De acordo com Pafaro (2004, p. 152):

Os sinais e sintomas físicos de estresse incluem aumento da sudorese, nó no estômago, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto da mandíbula, ranger de dentes, hiperatividade, mãos e pés frios, náuseas, entre outros. Os sintomas psicológicos mais comuns são ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação, dificuldades interpessoais, baixo autoconceito, preocupação exacerbada, dificuldade em concentrarem-se em outros assuntos que não estejam relacionados ao estressor, dificuldades de relaxar, ira, tédio, depressão, hipersensibilidade emotiva, entre outros.

Sob uma perspectiva social, Masselli (2004) aponta o estresse como um fator discutido também entre diversos autores desde o final do século passado, de forma que contando com trabalhos referentes a taxas de suicídio na fase da Revolução Industrial, causado pelos aumentos dos processos de desorganização social, fato que mostra como o estresse também se mantém correlacionado com fatores ambientais e sociais.

De acordo com Lipp (2001), a reação do organismo humano de frente a situações conflituosas nos remete às épocas antigas onde o humano deveria reagir contra os malefícios naturais, buscando sobrevivência em meio aos grandes perigos e predadores.

Stacciarini (2004) define formas distintas do estresse, considerando que possuem um enfoque especial nos estressores, como resposta, quando examinamos a tensão que é produzida pelos tensores ou como interação entre ambiente externo e interno do indivíduo, sendo um processo contínuo.

Ainda de acordo com Stacciarini (2004), são cada vez mais recorrentes relatos de pessoas que dizem estar estressadas, sempre colocando o estresse em uma associação de algo negativo, o que atrapalha o desempenho do indivíduo e causa desconfortos físicos e psicológicos, principalmente dentro do ambiente laboral.

1.1 Estresse no Trabalho

Atualmente, o perfil do trabalhador sofreu grandes alterações frente às novas tendências do século XX, sendo assim, é possível considerar não somente as condições higiênicas ou a segurança do trabalhador como fator decisivo, mas é necessário também considerar a importância das relações sociais e interpessoais dos indivíduos, fatores que influenciam e afetam de forma direta a saúde e quanto o trabalhador rende. Estas relações interpessoais e psicossociais podem ser consideradas pontos geradores do estresse nos ambientes organizacionais que está ligada diretamente à estrutura mental e corporal dos indivíduos, considerando, inclusive, o ritmo em que esses profissionais vivem dentro da rotina laboral, que podem ser grandes motivos causadores de inúmeras doenças emocionais que afetarão os aspectos profissionais, familiares, sociais e todas as pessoas a sua volta de um jeito ou de outro (LIPP, 2001).

O estresse ocupacional faz com o que o ritmo desses profissionais se mantenha sempre acelerado, mantido pelo desejo de realizar um trabalho excelente no tempo determinado de toda a demanda exigida em seu ofício, prejudicando não apenas a rotina do dia a dia, como também, o sono, resultando em noites mal dormidas, desestruturação do organismo. Dessa forma, eles correm riscos sérios de submeter-se a acidentes de trabalho, pondo como fator de importância máxima o descanso para um eficaz desempenho. Desta forma, foca o autoconhecimento como fator primordial, pois se trata de algo indispensável para a saúde, de forma que os colaboradores necessitem buscar maior companheirismo no trabalho em equipe, com o intuito de minimizar os efeitos negativos da superexposição às cobranças organizacionais (GAUDENCIO, 2009).

Rios (2008) afirma que o ser humano busca reconhecimento profissional e pessoal bem como prestígio, e não somente reconhecimento financeiro, além disso, afirma também que, é com o trabalho que as pessoas passam a construir um significado para sua própria existência, correndo atrás de seus objetivos e reconhecimento, se esquecendo de olhar para dentro de si mesmo, suas limitações, seu emocional, psíquico, físico, mental.

A descrição de sensações particulares em relação a questionamentos referentes as reais capacidades de transformação do ser humano exposto a tantas fragilidades orgânicas ou um ser em busca de transformações igualando-se às máquinas que não temem consequências dos males provenientes do excesso de trabalho e preocupações. Essa busca incessante pelo reconhecimento profissional e pessoal atinge milhões de trabalhadores de diversas áreas na saúde, engenharia, setores bancários e produtivos. Todos lutando pelo seu reconhecimento, e dessa forma ocasionando, pela intensidade, uma doença física e emocional. De acordo com estudos de Camelo Angerami (2008), o ambiente laboral produz consequências psíquicas e orgânicas devido às grandes exigências que os trabalhadores fazem de si mesmos, além do excesso de tarefas, longa jornada, gerando riscos psicológicos que levam ao estresse ocupacional.

Nos dias atuais, muitas empresas estão sendo afetadas por um descontrole do estresse organizacional que exerce grande influência na qualidade da atuação dos profissionais, gerando consequências de absenteísmo, além de afetar também a sua rotina familiar. Sendo assim, torna-se necessário pensar no desenvolvimento de algo que levante as necessidades desses trabalhadores, organizando um estudo diagnóstico a fim de buscar maior qualidade de vida e resolução de problemas nestes ambientes (LIPP, 2001).

Nos dias atuais o organismo humano sofre alterações em sua homeostase em ambientes ocupacionais onde o indivíduo deve manter o controle emocional, sendo impedido de reagir como antigamente. No entanto, o mesmo é acometido por estressores ambientais em maior nível hierárquico, devendo manter o controle emocional a fim de manter o emprego e o sustento da família. O organismo reflete, porém, com reações de consequências físicas e neurológicas. Como resposta a estes estímulos, provocando os desgastes conhecidos do estresse e suas reações em doenças (LIPP, 2001).

De acordo com Nascimento e Ferraz (2004), profissionais que possuem contatos interpessoais mais exigentes em suas ocupações são afetados por uma síndrome psicológica decorrente de uma tensão crônica com indicações de exaustão emocional em ambiente ocupacional, conhecida como Síndrome de “Burn Out”, fenômeno abordado pelo psiquiatra Herbert Freudenberger em 1974, fenômeno também estudado pela psicóloga social Christina Maslach.

Para Rios (2008), as pessoas que estão hoje atuando na área de saúde, são pessoas mais propensas a ficarem doentes, pois existe o acúmulo de atividades, horário de trabalho que na maioria excede o seu horário normal. A autora também cita outros fatores que influenciam para que esses profissionais adoeçam em seus ambientes de trabalhos, como, por exemplo, trabalhar diretamente com o sofrimento do outro, o não reconhecimento pelos seus colegas de trabalho, o acúmulo das atividades exercidas e baixas remunerações.

De acordo com Lacaz e Sato, 2006 apud Rios (2008 pg.17).

[…] apesar da importância desses aspectos, é cada vez mais evidente que a organização do trabalho e o modelo de gestão concentram os principais fatores psicossociais relativos ao ambiente de trabalho presentes no adoecimento dos trabalhadores da saúde.

Os riscos psicológicos identificados em estudos recentes mantêm ligações com choques culturais existentes em organizações, dificuldades de adaptação por parte de trabalhadores em determinadas funções e responsabilidades, conflitos relacionados às expectativas que trabalhadores carregam ao longo de planos de vida e carreira, conflitos de autonomia nas funções executadas e relações estabelecidas com colegas e gestores. A vida particular dos trabalhadores promove interferências diretas sobre o estresse em meio organizacional, especialmente no caso de mulheres que possuem filhos e se constituem no suporte financeiro de suas famílias, gerando excesso de responsabilidades (CAMELO, 2011).

O fortalecimento do trabalho de equipes multiprofissionais, a valorização dos profissionais, o reajuste no salário dos mesmos são fatores higiênicos importantes na minimização da quantidade de profissionais doentes ou afastados do ambiente de trabalho, considerando que este reconhecimento profissional poderá manter mais pessoas dispostas às atribuições e necessidades da empresa, realizando suas atividades com maior motivação e prazer (SPINOLA ET AL, 2003).

Para a promoção da saúde é fundamental a gestão das situações no ambiente de trabalho, sempre de forma coletiva, aprimorando assim a capacidade de analisar e compreender o próprio trabalho, criando espaços para o diálogo e o entendimento coletivo (BRASIL, 2004).

Melo; Cosenza (2006) menciona que um dos motivos básicos para o adoecimento de um funcionário normalmente ativo no ambiente de trabalho é o fator mulher-mãe-profissional. A mulher moderna está ocupando um espaço diferenciado em status social, quando, antigamente, seu papel se dava apenas em núcleo familiar. Hoje essa situação mudou significativamente e a mulher moderna alcançou novos espaços ocupacionais. Inclusive, a escolha de profissões e os cursos regulares e de extensão foram atualizadas nesta classe. Antigamente as profissões eram estabelecidas por sexo, porém, hoje a mulher ocupa cargos que fazem delas uma diferença no mercado de trabalho, surpreendendo espaços não esperados como direção de empresas, motoristas de ônibus, áreas da engenharia, assim como compõe a força de mão de obra lado a lado com o homem na área de produção, entre outras.

Ainda de acordo com Melo; Cosenza (2006), para que fossem possíveis tais mudanças, a mulher sofreu alterações em seu organismo e estrutura, unindo todas as atribuições diárias, o que, porém acarretou uma disfunção que gerou a necessidade de uma readaptação. A mulher, ao se aproximar de determinado momento de sua existência, passa a se reorganizar de acordo com suas possibilidades, consequentemente idealizando escolhas que podem estar baseadas em aquisição de bens materiais ou formação familiar. A mulher moderna, ao se deparar com as novas exigências de formação familiar, recebe novas cargas e responsabilidades opostas aos costumes rotineiros, situação comum no caso de mães que retornam após afastamento de maternidade, as quais passam a demonstrar maiores sinais de desmotivação e de estresse nas relações em geral.

Os resultados mais frequentes se notam no aumento da proporção de mulheres apresentando sentimentos nocivos de culpabilidade por não mais apresentarem os mesmos resultados profissionais, devido ao acúmulo de novas responsabilidades e às consequências de um novo contexto (MELO; COSENZA, 2006).

Ainda é necessário considerar fatores de concorrência organizacional de acordo com os sexos, onde, historicamente, a mulher busca maior desenvolvimento profissional, possuindo uma essência relativamente diferenciada na classe feminina que ainda mantém o papel de mãe de família, inclusive oferecendo resultados diferentes e, em alguns casos, superior aos resultados masculinos (MELO; COSENZA, 2006).

De fato, a mulher moderna vem conquistando e ampliando espaços de atuação e, consequentemente, provocando alterações nas relações familiares, nas visões organizacionais, nas responsabilidades domésticas, assim como em todas as áreas nas quais se envolve, demonstrando as mudanças rápidas no desenvolvimento da espécie feminina (MELO; COSENZA, 2006).

1.2 Mulher e Trabalho ao Longo da História

A inserção da mulher no mercado de trabalho se deu após muita luta feminista pela igualdade entre os sexos, tendo em vista que antigamente o homem era visto como provedor do lar, logo a mulher não precisava trabalhar (PROBST, 2003).

A caminhada feminina foi marcada por uma luta sacrificada, com grandes preconceitos e discriminações, mas que, em contrapartida, vem se transformando e consolidando. Historicamente a revolução feminista trouxe louros para a classe no âmbito profissional, porém nesta busca da independência e reconhecimento algumas sobras aconteceram em torno do estresse, fadiga e exaustão (DEL PRIORE, 2000).

Essa inserção surge da necessidade econômica da mulher em contribuir no orçamento familiar, além do significativo aumento do nível de escolaridade das mulheres e a diminuição de barreiras culturais ao seu ingresso no ambiente organizacional. As mulheres, casadas ou não, procuram disputar mais o seu lugar no mercado de trabalho (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010).

A estrutura econômica de cada país também teve influência: as mulheres foram historicamente forçadas a integrar o exército da reserva de mão de obra, um movimento que se iniciou com as I e II Guerras Mundiais em que as mulheres tiveram que assumir a posição dos homens no mercado de trabalho. (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010) e passaram a liderar um movimento feminista com características políticas (PROBST, 2003).

Os homens iam para a guerra e as mulheres assumiam os negócios da família, e, consequentemente, a posição de seus maridos no mercado. Quando a guerra acabou, muitos homens haviam morrido e muitos dos que sobreviveram, ficaram impossibilitados de trabalhar, pois tinham sido mutilados. Dessa forma, houve a necessidade de as mulheres deixarem suas casas e filhos e passarem a fazer o trabalho que antes era realizado pelos homens (PROBST, 2003, p. 2).

Ainda de acordo com a autora, foi devido à necessidade de sustentar a família, no pós guerra, que as mulheres começaram a fazer parte do mundo do trabalho. Porém, seu trabalho não tinha valor e não era aceito pela sociedade:

[…] As que ficavam viúvas, ou eram de uma elite empobrecida, e precisam se virar para se sustentar e aos filhos, faziam doces por encomendas, arranjo de flores, bordados e crivos, davam aulas de piano etc. Mas além de pouco valorizadas, essas atividades eram mal vistas pela sociedade. (PROBST, 2003, p. 1).

A partir da década de 70, as mulheres foram conquistando um espaço maior no mercado de trabalho. A sociedade passa a apostar nos valores femininos como algo mais vantajoso que o trabalho masculino (PROBST, 2003).

Ainda de acordo com a autora, percebeu-se que as mulheres trabalham mais em equipe, possuindo cooperação no lugar da competição. Com o avanço tecnológico e o surgimento de novas máquinas, levanta-se a necessidade de transferirem as mulheres para as fábricas, ou seja, grande parte da mão de obra passa a ser feminina (PROBST, 2003).

A partir disso, as mulheres passam a ser beneficiadas também por algumas leis que foram criadas especificamente para elas. Dentre essas leis, destacam-se as seguintes proibições: trabalho feminino durante as madrugadas, mulheres gestantes próximas à data de parto e a demissão de mulheres grávidas (PROBST, 2003).

[…] algumas leis passaram a beneficiar as mulheres. Ficou estabelecido na Constituição de 32 que “sem distinção de sexo, a todo trabalho de igual valor correspondente salário igual; veda-se o trabalho feminino das 22 horas às 5 da manhã; é proibido o trabalho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois; é proibido despedir mulher grávida pelo simples fato da gravidez” (PROBST, 2003, p.2).

As explicações para a grande participação das mulheres no ambiente organizacional também se dá ao fato de sua emancipação, independência financeira e à necessidade de complementar a renda familiar (GOMES, SANTANA e SILVA, 2005).

[…] Até muito recentemente o trabalho das mulheres teve, em relação ao dos homens, um caráter complementar na sustentação da família, fazendo com que sua inserção fosse intermitente, em atividades de baixa qualificação e com consequente baixa remuneração. (AQUINO, MENEZES e MARINHO, 1995, p. 2).

Mesmo com essas conquistas, muitas formas de exploração perduraram durante anos, como extensas jornadas e diferenças salariais. Para as diferenças salariais, tinha-se como justificativa o fato de que o homem sustentava a casa e, sendo assim, não havia a necessidade da esposa ganhar mais (PROBST, 2003).

A década de 90 foi marcada pela grande participação das mulheres e aumento das responsabilidades no comando de suas famílias.

Ao longo da história, as mulheres conseguiram fortalecer a sua participação no mercado de trabalho, conseguindo também aumentar seu poder aquisitivo e sua escolaridade, além de reduzir a defasagem salarial comparada aos homens (PROBST, 2003).

Apesar de todas as conquistas ainda deparamos (em escala menor) com preconceitos que permeiam o ambiente de trabalho da mulher. O processo é lento, porém sólido:

[…] O fenômeno ainda é lento, mas constante e progressivo. Em 1973, apenas 30,9% da População Economicamente Ativa (PEA) do Brasil era do sexo feminino. Segundo os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), em 1999, elas já representavam 41,4% do total da força de trabalho. Um exército de aproximadamente 33 milhões. Em Santa Catarina, elas ocupavam 36,7% das vagas existentes em 1997. Quatro anos depois, em 2000, mais 62 mil mulheres ingressaram pela primeira vez no mercado, aumentando a participação em 1,1 ponto percentual (PROBST, 2003, p.5).

Os desafios e as conquistas femininas se multiplicam com o passar dos anos. E hoje grande parte das mulheres ainda são tratadas com desigualdade, pois nota-se que os salários não acompanham esta conquista. As mulheres de hoje têm menos filhos que nos dias de ontem, o que contribui para facilitar a mão de obra feminina no mercado de trabalho, além da mulher poder conciliar melhor o papel de mãe e trabalhadora (PROBST, 2003).

A mulher atual tem um perfil completamente diferente daquelas que trabalhavam na era industrial em linhas de produção. As mulheres se preocuparam mais em estudar que os homens, facilitando sua participação no mercado de trabalho, até mesmo em cargos de gerência (PROBST, 2003). Em contrapartida, acumulam tarefas: mãe, esposa e dona de casa.

Segundo pesquisas, não há cargos que hoje a mulher não possa ocupar, já provaram serem competentes tanto ou mais que os homens (ASSIS, 2009). Nesse contexto, verificam-se muitas mulheres em cargos de liderança que subiram por seus méritos, estes, avaliados igualmente entre os homens.

[…] Como principais características no perfil de liderança feminino, pode ser destacada a sensibilidade, a intuição, a organização, a flexibilidade, o detalhismo, a tranquilidade, etc. Entretanto, o que mais chama a atenção para a forma de liderança da mulher é a grande preocupação com o indivíduo, ou seja, há uma forte transparência com seus colaboradores. A mulher busca a satisfação de todos os envolvidos na organização, compartilhando as informações e abrindo espaço para que os colaboradores compartilhem suas opiniões, reforçando assim, a valorização do indivíduo (ASSIS, 2009, p. 14).

1.3 Estresse da Mulher no Ambiente Organizacional e Familiar

O espaço ocupacional possui detalhes específicos relacionados claramente ao estresse, dentre estes a busca incessante para responder demandas de trabalho, problemas de relacionamentos no seio familiar, dificuldades de se adequar aos procedimentos de gestão, rendimentos não condizentes com a atuação, desmotivação profissional. Segundo Lazarus (1995) (apud Paschoal; Tamayo, 2004) esses estressores variam de indivíduo para indivíduo. Nem todos avaliam as demandas impostas pelo trabalho como excessivas e incapazes de ser realizadas. Uma relação do ambiente com o próprio indivíduo é o que determinará se uma pessoa irá adquirir ou não o estresse.

Um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) revela que a classe feminina introduzida em ambientes organizacionais de países emergentes ou mesmo países desenvolvidos, apresenta maior índice de estresse se comparado ao dos homens (RINALDI, 2007).

Aquino, Menezes e Marinho (1995) apontam para o fato de que a maior parte dos estudos concebidos atualmente referente ao estresse no trabalho enfocam majoritariamente os homens, ou seja, os últimos indicadores considerados, o trabalho mais focado e indicado como conteúdo estressante era exclusivo do sexo masculino. Ainda de acordo com a autora, trabalhadoras de terceiro turno apresentavam os maiores índices de diagnósticos negativos para a saúde e bem estar geral.

Outro aspecto importante trazido por Aquino, Menezes e Marinho (1995) é a visão que a medicina possui da mulher como mãe, sendo ainda categorizada como indiscutivelmente “mãe grávida” e estabelecendo uma noção injusta de riscos à reprodução humana.

A personalidade polivalente assumida pelas mulheres modernas mostra um acúmulo de responsabilidades a que a mesma se submete. Dentre essas responsabilidades, a dupla jornada com afazeres domésticos, cuidados com a prole e, paralelamente, sua inserção no mercado de trabalho. (SADIR, BIGNOTTO; LIPP, 2010).

Historicamente e culturalmente, aquelas mulheres que foram vistas, e que ainda hoje são destinadas aos cargos de cuidadoras, sentem-se em sua grande maioria culpadas por este afastamento da casa e do lar, ao se dedicarem às demandas do ambiente organizacional (SADIR, BIGNOTTO; LIPP, 2010).

A maioria delas concentram suas energias na carreira, sentindo-se culpadas e preocupadas por terem deixado a família de lado. O mesmo acontece da forma oposta, onde a dedicação à família e ao marido podem desviar energias que seriam atribuídas à obtenção do sucesso profissional (SADIR, BIGNOTTO; LIPP, 2010).

Sem maiores questionamentos, é considerável compreender que a inserção de uma dupla jornada no cotidiano pode proporcionar elevações nos níveis de estresse feminino (AREIAS; GUIMARÃES, 2004).

A dupla jornada consiste na inter-relação entre os papéis exercidos pelas mulheres no trabalho e em casa, acumulando responsabilidades entre a casa e família paralelamente à sua participação no ambiente organizacional (SADIR, BIGNOTTO; LIPP, 2010).

Atualmente o que podemos observar, é que o modelo clássico de família onde a “mulher é cuidadora” e o “homem é provedor”, vem sendo alterado, porém as mulheres continuam sendo “cuidadoras”, agregando, além do espaço doméstico, o espaço público (ARAUJO; SCALON, 2006).

Para podermos analisar as situações de estresse entre as mulheres será necessário pontuar as atribuições das mulheres de acordo com os diversos contextos reconhecidos. Segundo pesquisas, na percepção dos homens, a ausência das mulheres tende a gerar sentimentos de solidão e de necessidade da presença feminina, além de considerarem o papel de “esposa” e de “mãe” de suma importância (ARAUJO; SCALON, 2006).

Atualmente, é preciso buscar níveis de igualdade entre os sexos, dentro dos lares, buscando não sobrecarregar as mulheres com afazeres domésticos, pois é esperado que um número mínimo destas mulheres receba ajuda de seus maridos para as tarefas rotineiras. Porém ainda é reconhecido o domínio preconcebido de homens que não se encaixam ou não se enquadram em afazeres que antigamente eram especialmente femininos. Já é possível verificar algumas mudanças no comportamento masculino de frente com estas inserções cotidianas do trabalho doméstico, porém ainda é pequeno para ser mensurado ou considerado. (NETO, TANURE; ANDRADE, 2010).

Assim, como observam os autores acima, se excluirmos fatores relacionados à gestação e à maternidade, todos os outros aspectos envolvidos no cuidado podem ser perfeitamente desenvolvidos por homens e mulheres. No entanto, não é isso o que ocorre. As atividades destacadas ainda são mais desenvolvidas por mulheres, tendo pouco envolvimento dos homens, mantendo-se assim o modelo tradicional (NETO, TANURE; ANDRADE, 2010).

Desta forma, é possível considerar que, apesar de existir determinada mobilidade no quadro geral, este é ainda um ponto em transformação contínua na sociedade, em constante evolução com a inserção da mulher no ambiente organizacional. É necessário enfatizar também os grandes preconceitos que permeiam esta questão. A classe feminina, considerada sexo frágil, passou a transformar-se de forma geral diante dos preconceitos, passando a manter o comportamento de pensar como um homem e com o fardo de disputar e vencer vários homens que concorriam ao mesmo cargo. (BETIOL; TONELLI, 1991)

Nas culturas baseadas na dominância do homem, tem-se a expectativa de que suas ações sejam mais voltadas às atividades fora do ambiente do lar, e que possuam uma conduta mais firme, dura e também competitiva (VAN VIANEN; FISHER, 2002 apud NETO, TANURE; ANDRADE, 2010). Entretanto, as disputas sociais também explicam as diferenças existentes entre homens e mulheres (NETO, TANURE; ANDRADE, 2010).

A mulher tem enfrentado diversas dificuldades cotidianas em decorrência de fatores da jornada dupla, clarificando necessidades de maiores estudos e pesquisas a respeito para obtenção de compreensões mais amplas a respeito do estresse vivido por estas e considerando ainda possíveis dificuldades em relacionamentos amorosos que também passaram a ser modificados por esta realidade. É notável que mulheres estejam mais dedicadas à carreira, dificultando encontros estáveis com parceiros amorosos, isto porque, quanto mais elevado o cargo da mulher, mais difícil se torna a rotina que, muitas vezes, é marcada pela sua ausência. Com a evolução feminina no mercado de trabalho, a visão do sexo frágil vem sendo alterada simultaneamente, consequentemente tornando os homens mais inseguros em relação à mulher. (NETO, TANURE E ANDRADE, 2010).

Algumas pesquisas mostram o quanto o estresse está mais relacionado com a classe feminina, de forma que são as mais acometidas por episódios de dores tensionais, e indisposição, além do que, atualmente, também compreendemos relatos de mulheres que enfatizam a diminuição da disposição para esta jornada dupla na qual estão inseridas, tendo que atender às demandas de casa, mãe e esposa. Nessa situação, observamos que as mulheres estão muito mais estressadas e insatisfeitas com a falta de equilíbrio entre o lar e o trabalho. (POSSATTI; DIAS, 2002).

Apesar de todas as dificuldades, verifica-se que as mulheres que chegaram a um alto patamar profissional, apresentam desejos e gostam de seus resultados, promovendo a continuidade em suas realizações em geral e não trocando o status da carreira por uma maior dedicação ao núcleo familiar. Por mais que expressem algumas das suas insatisfações ocupacionais, não possuem o desejo de abandonar a carreira, buscando, ao contrario, cada vez mais o seu reconhecimento profissional (NETO, TANURE E ANDRADE, 2010).

Aquino, Menezes; Marino (1995) apontam para o fato de que, na década de 80, não havia tanto conhecimento a respeito do estresse como nos dias de hoje, tomando, assim, uma proporção muito maior em relação ao estresse que as mulheres sofrem hoje no seu local de trabalho. Este só passou a ser reconhecido dentro desse mesmo período a partir de um encontro internacional da mulher, visto que o desconhecimento desse fato se daria pela predominância do homem no mercado de trabalho.

Aquino, Menezes; Marino (1995) observa que, nos últimos anos, a participação das mulheres no mercado de trabalho e na renda familiar tem aumentado gradativamente, porém as suas tarefas continuam sendo inferiores às dos homens e o salário continua mais baixo em comparação ao dos homens. Recentemente a estimativa de produtividade das mulheres tem aumentado muito no mercado de trabalho. Percebe-se que existe um crescimento cada vez maior da mulher exercendo diversas funções no mercado de trabalho e os índices tendem a subir cada vez mais.

Aquino, Menezes; Marino (1995) acrescentou que até mesmo a crise, que chegou a afetar diversos espaços produtivos do mundo, mas não a mudança de desejos femininos no mercado de trabalho. Os autores mencionam ainda que as mulheres, no seu dia-a-dia, tentam conciliar a sua vida profissional com os afazeres de casa, mas acabam deixando este de lado e se dedicando apenas ao trabalho que se ajuste com sua rotina de demanda de “mulher do lar”. Sendo assim, muitas vezes as responsabilidades do lar as impedem de progredir ou até mesmo de adquirir uma renda melhor em seu emprego, pois sua disponibilidade para se dedicar por inteira ao seu trabalho é interrompida por sua jornada familiar. A mulher, ao ser inserida no mercado de trabalho, passou a exigir diversas mudanças nas regras estabelecidas pelo homem, porém, não deixou de lado as preocupações, e deu causa a possíveis doenças pela sua participação como mulher do lar.

1.4 O Sentimento de Pertencimento

Apesar de todos os problemas na luta pela independência em âmbito organizacional, a maioria das mulheres continua apostando no trabalho e na carreira, como propulsor de prazer e bem-estar psicológico. Quando estas se mostram insatisfeitas, não significa uma negação na carreira e sim, uma busca pela auto realização, onde não aceitam mais retornarem à sua posição anterior (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010).

Retornar à posição anterior significa para elas uma dominação masculina, abandonar o lugar que foi conquistado inicialmente pelos homens, mas que hoje ganham cada vez mais espaço com as mulheres. A mulher possui uma nova percepção, passou por vários preconceitos, mas não querem voltar atrás naquilo que já foi conquistado (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010).

Verbrugge (apud POSSATTI; DIAS, 2002) considerou que a atuação da mulher em duplas e/ou triplas jornadas beneficia tanto a saúde física quanto a saúde mental, proporcionando assim, um bem-estar psicológico. Além disso, aponta que segundo pesquisas, a maioria das depressões em mulheres são diagnosticadas naquelas que desempenham papéis tradicionais, como cuidar do lar, marido e filhos.

A explicação disso vem da valorização e do sentimento de pertencimento da mulher ao ambiente organizacional. Quanto maior o sentimento de valorização maior será o seu comprometimento com o trabalho, pois se enxergam identificadas, olhadas (THOITS apud POSSATTI; DIAS, 2002).

Alguns estudos apontam para explicações como a base de troca e a formação de vínculos sociais a partir de uma visão ampla de cooperação social, criando assim, o sentimento de pertencimento da mulher dentro do ambiente organizacional (SIQUEIRA; JUNIOR, 2004).

A geração dos vínculos se dá na relação indivíduo-organização oriunda de crenças e afetos desenvolvidos pelos empregados e dirigidos à organização. Dá-se em uma perspectiva de troca, na qual a organização fornece subsídios (em forma de incentivos econômicos e sociais) e recebe de volta contribuições dos empregados (em forma de desempenho, dedicação e compromisso) (SIQUEIRA; JUNIOR, 2004).

Além disso, alguns indivíduos, à medida que se identificam com o trabalho, mais se apegam às suas atividades laborativas, formando vínculos com a própria organização, gerando, consequentemente, satisfação, envolvimento e comprometimento no trabalho (SIQUEIRA; JUNIOR, 2004).

O sentimento de pertencimento nas mulheres mistura-se com sentimentos de independência, de controle e de uma autoestima positiva, favorecendo a sua saúde física e psicológica (VERBRUGGE apud POSSATTI; DIAS, 2002).

A ideia de a mulher desempenhar papéis tradicionais vem-se diluindo cada vez mais, tendo em vista que se encontraram níveis de bem-estar elevado em mulheres que vivenciam a multiplicidade de papéis com o trabalho (AMATEA; FONG apud POSSATTI; DIAS, 2002).

Os ganhos de uma divisão mais igualitária no casamento são para todos, pois:

Se a mãe diminui sua sobrecarga em casa e passa a contribuir financeiramente com seu trabalho, por outro lado o pai também sofre menos a pressão dos momentos de insegurança no emprego, e passa a conviver mais com os filhos criando um relacionamento mais estreito, o que tem favorecido ao bem-estar emocional dos filhos (BARNETT; RIVERS apud POSSATTI; DIAS, 2002, p. 5).

Para a maioria das mulheres, as recompensas são maiores que as preocupações. Além do fato de que se sentem motivadas por terem o poder de decisão, autonomia, estímulos para poder ajudar os outros e, consequentemente, a si mesmas.

O sentimento de pertencimento nas mulheres no ambiente organizacional também é favorecido pelos processos de interação entre indivíduo–trabalho e indivíduo–organização, destacando-se os sentimentos e as atitudes que emergem desta relação (SIQUEIRA; JUNIOR, 2004).

Na visão sociológica, seria o processo de socialização do indivíduo que permitiria a ela introjetar ou incorporar os valores e as normas sociais relativas ao trabalho, levando-a a aceitar as regras do sistema organizacional e a pautar sua conduta no trabalho a partir delas (SIQUEIRA; JUNIOR, 2004).

Segundo, Siqueira; Júnior, 2004, p.86:

No contexto organizacional, a norma de reciprocidade também seria evocada por um empregado ao representar mentalmente a organização como uma entidade social com a qual é possível entabular trocas sociais, aplicando às suas relações com a organização princípios semelhantes aos que usa para iniciar, manter e fortalecer vínculos na vida social.

A partir disso é pertinente lembrar, que o que também favorece o sentimento de pertencimento é a Percepção de reciprocidade organizacional, que segundo (Siqueira e Júnior, 2004) consiste num “conjunto de crenças acerca do estilo retributivo adotado pela organização perante contribuições ofertadas por seus empregados”.

Sendo assim, percebe-se que os empregados criam expectativas de futuras retribuições por parte da organização. Através destas expectativas, o funcionário assume o papel de doador e a organização de receptora (SIQUEIRA; JUNIOR, 2004).

Desta maneira, observamos que a multiplicidade de papéis desempenhada pelas mulheres nem sempre é, necessariamente, fator desencadeador de estresse. Demonstra-se que o trabalho remunerado eleva o bem-estar, nos fazendo refletir que outros eventos sociais fora do trabalho ou a falta de qualidade nos relacionamentos, podem favorecer o desgaste físico e emocional, denominado como estresse (POSSATTI; DIAS, 2002).

A motivação da mulher no mercado de trabalho contribui para uma maior capacidade em lidar com situações novas e complexas, para uma autoestima elevada capaz de torná-la autora de sua própria história. É necessário também lembrar que essa capacidade acaba se estendendo a outras esferas de sua vida pessoal, criando condições que possa modificar e controlar (POSSATTI; DIAS, 2002).

1.5 As Intervenções em Estresse Organizacional

Há muito tempo pesquisadores se dedicam a explorar esse campo, buscando inovações ou formas de intervir no estresse adquirido em ambiente de trabalho.

As intervenções podem apresentar perfil primário, secundário ou terciário. Os casos de intervenções realizadas por motivos primários envolvem a tentativa de reduzir estressores no ambiente de trabalho. Em casos secundários busca-se a redução de estresse, o Burn Out, etc. e nos terciários produz-se a redução das consequências de longo prazo iniciadas pelo estresse ocupacional. Podemos observar que essas características ocorrem mais no âmbito individual, especialmente nos níveis secundários e terciários, conforme observações de pesquisas (KOMPIER, KRISTENSEN, 2001).

De acordo com outras pesquisas, é imprescindível a realização de discussões e a compreensão da historicidade envolvida nas intervenções do estresse ocupacional. Segundo Newman; Beehr, 1979 (apud KOMPIER, KRISTENSEN, 2001), a conclusão de muitas das estratégias criadas na época, não foram avaliadas com muito critério científico. Isso não quer dizer que a maiorias das estratégias não seja válida e sim, que, simplesmente, não foram realizadas pesquisas de avaliação. No entanto, ressalta a importância do fato de psicólogos se envolverem mais com a questão do estresse organizacional.

Nos dias atuais podemos considerar crescentes trabalhos de psicólogos organizacionais em busca de desafios e de novas visões em relação ao estresse, assim como em relação aos estressores que afetam o ambiente organizacional e suas possíveis variáveis (MELO; COSENZA, 2006).

Verifica-se que há uma busca por formas e meios efetivos contra o estresse no ambiente de trabalho, e que esse novo modelo tornou mais fácil a consideração sistemática de mudanças possíveis na situação de trabalho e no trabalhador.

Atualmente, o estresse organizacional é um campo de expansão em aceleração onde é possível encontrar razoável gama de trabalhos e matérias relacionadas (KOMPIER, KRISTENSEN, 2001).

Podemos encontrar nos dias atuais meios de prevenção do estresse, pois existe uma grande preocupação relacionada ao estresse laboral. As intervenções mais atuais de estresse constituem-se principalmente numa base preventiva, como o aconselhamento de trabalhadores “estressados”, psicoterapia individual, técnicas de relaxamento, etc. Não perdendo o foco em eliminar os “riscos” (KOMPIER, KRISTENSEN, 2001). Mesmo assim, ainda nos deparamos com uma escassez em intervenções dirigidas para organizações. Infelizmente ainda não se pode confirmar ao que se refere à prevenção do estresse e nem podemos afirmar que são estratégias efetivas (KOMPIER, KRISTENSEN, 2001).

Pode-se dizer que falta uma análise apropriada, buscando identificar quais os tipos de estressores afetam determinada empresa ou trabalhador. Somente com o conhecimento a respeito das causas, é que a prevenção pode tornar-se possível. (POSSATTI ; DIAS, 2002).

2. Objetivos

2.1 Objetivos Gerais

Identificar os níveis do estresse existentes em trabalhadoras do sexo feminino atuantes dentro das organizações.

2.2 Objetivos específicos

Categorizar sujeitos de acordo com idade, setores em que atuam na organização e tempo total exercido nas funções, com a finalidade de levantar resultados pertinentes e estabelecer possível correlação entre os dados relevantes à pesquisa.

De acordo com os dados levantados, realizar uma análise do tipo de trabalho realizado pelos sujeitos e de como estas atribuições influenciam emocionalmente a mulher moderna, buscando identificar as diferenças de reações emitidas por estas, caracterizando o estresse identificado e verificar em que nível o estresse é decorrência da dupla jornada ao qual as mulheres se submetem.

2.3 Hipóteses

De acordo com os estudos obtidos, podemos supor que, quanto maior o tempo de exercício da função organizacional, consequentemente maior seria o nível de estresse apresentado pelos sujeitos, considerando-se que, no caso das mulheres, a dupla jornada torna-se uma realidade, em âmbito residencial, incluindo responsabilidades com marido e filhos.

3. Metodologia

LAKATOS; MARCONI (2001) definem método como um conjunto de atividades sistemáticas e racionais que favorecem o alcance de objetivos, traçando o caminho a ser trilhado, detectando possíveis erros e auxiliando na tomada de decisões dos pesquisadores.

O estudo em questão se constitui em uma pesquisa de caráter exploratório, pois assim como define Mendonça (2003, p.73), os fatores foram observados, registrados e posteriormente analisados, de forma que pudessem ser categorizados e compreendidos sem a interferência dos pesquisadores, objetivando a familiarização de conceitos previamente estabelecidos e já conhecidos pelos pesquisadores.

A intenção primeira deste trabalho foi a de identificar formas corretas de se registrar fatos e fatores concretos acerca de uma realidade conhecida para nós, porém vistas a partir de outros olhos, olhos de mulheres trabalhadoras e que já mantém uma maior exigência diária em suas vidas, utilizando-se de métodos pautados em estudos respeitados e baseados em conteúdos reais dos sujeitos envolvidos, de forma que a coleta tenha ocorrido em somente um momento a fim de avaliar determinadas variáveis de uma determinada época em questão (SAMPIERI et al., 1991).

Em uma primeira etapa do trabalho, realizamos um estudo quantitativo, que de acordo com Minayo (2008), constitui-se de conceitos matemáticos para explicar uma realidade, utilizando de fundamentos quantitativos das ciências sociais iguais aos utilizados nas ciências naturais, considerando que o “mundo social opera de acordo com leis causais, sendo o alicerce da ciência a observação sensorial”. Ainda neste contexto, os dados recolhidos de uma realidade empírica das estruturas e instituições são suficientes para explicar a realidade (MINAYO, 2008, p.23).

O método contou com a aplicação de questões de múltipla escolha, sequencialmente seguido da aplicação de questões fechadas. Em geral, as questões foram elaboradas para que possibilitassem a tradução de sentimentos, angústias, mal estar físico e mental das participantes, com a finalidade de comprovar e/ou testar conceitos do início de nosso estudo, como o estresse laboral em mulheres que possuem dupla de trabalho (CRESWELL, 1994).

Já em relação ao método qualitativo, este foi trabalhado na busca de avaliar questões subjetivas, assim como a fala no sentido da expressão dos pensamentos e compreensões resultante das vivências de cada ser em particular, porém na busca de resultados mais concisos.

Em um segundo momento, aplicamos aos envolvidos questões abertas através de um método qualitativo, que, segundo Minayo (1996), possui a capacidade de incorporar a questão do significado individual e da intencionalidade dos sujeitos como inerentes aos atos, relações e estruturas sociais, sendo que estas últimas são tomadas tanto em seu advento quanto em suas transformações, como construções humanas e significativas, além de oferecer maiores produções de conteúdos significativos e de identificar fatores estressantes de meio em que estão inseridas.

O método qualitativo, segundo Minayo (1994), não busca uma verdade exata e incontestável e sim uma melhor compreensão dos processos de bem estar e de resposta dos participantes. Neste estudo, a busca manteve o intuito de manter espaços abertos para que pudessem emergir ou confirmar conteúdos não especificados nas questões anteriores, mantendo-se os valores e especificidades dos dados.

As questões de múltipla escolha foram elaboradas no intuito de otimização do tempo da pesquisa, assim como foi feito o uso de respostas fechadas no intuito de se manter os objetivos de obtenção de respostas mais conclusivas (MUCCHIELLI, 2004).

Sendo assim, a pesquisa desenvolvida buscou apresentar perspectivas duplas, quanti-qualitativas, objetivando uma maior compreensão da realidade vivida pelas participantes, de forma que melhor atendesse e traduzisse as especificidades da demanda estudada.

Para Minayo (2000, p. 22), “O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage, dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”.

Ainda neste intuito, a pesquisa baseada em formas de avaliações quanti-qualitativas acaba se tornando mais densa, de forma que somente a opção pela pesquisa quantitativa pode empobrecer a concepção dos resultados em relação ao contexto organizacional. Desta forma a pesquisa citada é denominada quanti-qualitativa ou mesmo pode ser considerada como uma pesquisa multi-método, (JICK, 1979 apud Campbell e Fiske, 1959).

3.1 Sujeitos

A presente pesquisa contou com a participação de vinte mulheres que atuam em duas organizações distintas em relação aos ramos de atividades, instaladas em cidades diferentes, São Roque e Sorocaba, ambas na região sudoeste do estado de São Paulo. Tomou-se cuidado com a escolha das participantes, levando em consideração que todas, independentemente da idade apresentada ou dos níveis hierárquicos, estivessem submetidas a duplas jornadas, para que facilitasse o enquadre de acordo com as características da pesquisa.

3.2 Instrumentos

Utilizamos como material um questionário composto de perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha, onde as participantes responderam com base na própria rotina e jornada, considerando a atuação laboral dentro das organizações.

3.3 Procedimentos

Em primeiro momento, foi feito contato formal com os responsáveis pelas organizações, esclarecendo-os sobre o objetivo e conteúdo da pesquisa, solicitando-lhes autorização para a realização da pesquisa com as profissionais que atuam em jornada dupla, de acordo com os objetivos e características da pesquisa, mediante a assinatura de um “Termo de Consentimento” concedendo assim a Autorização para Realização da Pesquisa pelos mesmos.

A primeira organização trata-se de uma multinacional americana da cidade de Sorocaba, atuando no mercado como uma metalúrgica no segmento de fabricação de baterias para automóveis e motocicletas, contando hoje com quase dois mil funcionários na unidade em que foram aplicados os questionários, e com mais de 140 mil colaboradores ao redor do mundo.

A segunda organização trata-se de um fabricante de marcas pioneiras no mercado brasileiro em itens farmacêuticos genéricos e de itens de consumo alimentício, que atualmente conta com treze mil colaboradores.

Após a indicação dos sujeitos de pesquisa pela Instituição, foi agendada uma data para o encontro e, a partir deste contato, foram esclarecidos os objetivos da pesquisa em questão. Firmamos a autorização para a realização da pesquisa com cada sujeito mediante a assinatura do “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”.

Conforme Resolução CNS 196/96, as pesquisas envolvendo seres humanos precisam atender às exigências éticas, sendo elas proteção ao grupo vulnerável, e o oferecimento de um máximo de benefícios e um mínimo de danos. Ficou garantido que todos os danos previsíveis foram evitados.

Para todos os sujeitos envolvidos na pesquisa, buscou-se garantir o seu bem estar. Os pesquisadores garantiram a melhor adequação possível, em relação ao contexto do projeto proposto.

Foi explicitada a necessidade da assinatura do Termo de Consentimento, deixando claro sobre o sigilo das informações prestadas, preservando-se a identidade dos participantes, garantindo-se a confidencialidade, privacidade, proteção de sua imagem e a não utilização das informações em prejuízo das pessoas.

Depois de totalmente explícito e esclarecido entre todos sobre as condições para iniciação da pesquisa, foi iniciada então a aplicação dos questionários.

Após o preenchimento dos questionários, começamos a etapa de categorização e análise de conteúdo, seguido das correlações entre os dados encontrados no campo e a teoria analisada durante a revisão bibliográfica.

Os questionários foram aplicados às vinte mulheres dentro das duas organizações mencionadas, mantendo a duração média de aproximadamente 20 a 30 minutos para resolução completa das questões aplicadas. Vale ressaltar que algumas das envolvidas solicitaram levar os questionários para suas residências, fator que não foi prejudicial ou dificultoso no processo, pois consideramos que os questionários foram entregues no prazo inicial solicitado e o retorno das respostas manteve-se com qualidade similar aos demais.

Todas as participantes receberam as instruções detalhadas sobre o questionário e responderam a um total de vinte questões, sendo 15 de múltipla escolha e cinco questões abertas e dissertativas acerca do tópico estresse. O grupo de pesquisadoras foi composto pelas autoras deste trabalho, que se dividiram para a aplicação da pesquisa dentro das empresas, entregando os questionários às respondentes, e posteriormente recebendo-os e esclarecendo quaisquer dúvidas que estas tivessem.

A análise das respostas foi realizada de forma quanti-qualitativa, ou seja, as questões de múltipla escolha foram tabuladas através de fórmulas e gráficos que mostraram resultados quantitativamente. As questões dissertativas foram analisadas através de uma análise de conteúdo, onde as respostas mais significativas e/ou mais frequentes foram levadas em consideração e trazidas para os resultados.

3.4 Aspectos Éticos

Após os devidos esclarecimentos a respeito da pesquisa, foi entregue a todas as mulheres participantes um questionário com 20 questões abertas e fechadas, juntamente com o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, baseado na Resolução CNS 196/96, Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos, do Conselho Nacional de Saúde, o qual formaliza as condições de adesão destes participantes ao estudo.

O Termo de Consentimento registra de forma clara todos os cuidados de cunho ético, e esclarece aos participantes que estes poderão desistir a qualquer momento da participação, informando-lhes também que a pesquisa é sigilosa e que os envolvidos não serão identificados, mantendo-se a integridade e bem-estar de todos como dever do pesquisador, assim como possibilidades nulas de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase da pesquisa ou desta decorrente. A Resolução CNS 196/96 assegura também que o participante seja informado que sua participação na pesquisa é de caráter voluntário, podendo existir por direito, a desistência deste a qualquer momento ou fase da pesquisa, o que foi integralmente cumprido.

4. Resultados e Discussões

Como mencionado em 2.1, esta pesquisa contou com 20 mulheres, que responderam aos questionários. Para os resultados, foram levados em consideração todos os dados obtidos nos questionários, bem como as respostas qualitativas, que refletem seus sentimentos e impressões acerca de sua situação.

Abaixo segue uma tabela com o perfil dos sujeitos:

Sujeito

Idade

Estado Civil

Área de atuação

Anos ocupando o cargo

1

41

Viúva

Vigilante

3 a 7 anos

2

30

Casada

Laboratório Microbiologia

1 a 3 anos

3

29

Casada

Garantia da qualidade

0 a 1 ano

4

39

Viúva

Líder

3 a 7 anos

5

30

Casada

Recursos Humanos

7 a 15 anos

6

27

Casada

Logística

7 a 15 anos

7

42

Casada

Líder embalagem

15 anos ou mais

8

41

——–

Serviços Gerais

3 a 7 anos

9

34

Casada

Líder de produção

7 a 15 anos

10

50

Solteira

Líder de produção

3 a 7 anos

11

27

Casada

Estagiária

0 a 1 ano

12

32

Casada

Enfermeira

1 a 3 anos

13

29

Casada

Assiste Adm.

1 a 3 anos

14

26

Casada

Segurança do trabalho

1 a 3 anos

15

40

Casada

Recursos Humanos

7 a 15 anos

16

31

Casada

Comercial

3 a 7 anos

17

40

Casada

Qualidade

15 anos ou mais

18

39

Separada

Tesouraria

3 a 7 anos

19

43

Casada

Adm. Grêmio

3 a 7 anos

20

45

Casada

Recursos Humanos

15 anos ou mais

4.1 Informações Pessoais:

Gráfico 1

Gráfico 1

A maior parte das mulheres que responderam ao questionário está na faixa entre 30 a 39 anos, correspondendo a 40% da amostra. As respondentes com idades de 20 a 29 anos representaram 25%, ao passo que 35% têm entre 40 e 50 anos. A escolha das idades foi aleatória, porém, como a maioria das mulheres é casada ou está em um relacionamento estável, com filhos, então esta faixa facilitou a observação da dupla jornada.

A maioria das colaboradoras é casada, uma vez que as mulheres casadas têm uma vida familiar, no trabalho e social, o que dá a ideia de que elas cumprem uma dupla jornada, representando 85% da amostra. O restante representa apenas 5% de cada categoria. Conforme já citado, este dado foi importante para determinar uma dupla, e também para observar como o casamento e/ ou família influenciou em suas percepções acerca do estresse laboral.

Gráfico 2

Gráfico 2

As interferências da dupla jornada na vida pessoal também foram avaliadas entre as mulheres, e o maior pesar dessas mulheres foi a indisponibilidade de tempo para conciliar família, lazer e trabalho. Muitas mulheres reclamam da falta de tempo para se dedicarem à família, além do pouco tempo que dispõe para lazer e amigos.

Muitas das mulheres apontaram para estes aspectos em suas respostas:

“A carga horária é bastante complicada […] principalmente nas datas comemorativas, quase nunca você está presente”.

Este dado é muito importante, uma vez que, segundo aponta a literatura sobre estresse, é necessário um equilíbrio entre a vida profissional e toda a sua demanda e um tempo para o lazer e descanso, o que é indicado aqui como falho.

Outra fala interessante, que traz este conteúdo claramente frustrante, de uma das mulheres que respondeu ao questionário, aborda questões como tolerância ao estilo de vida dela:

“Minha vida é uma correria, às vezes me pergunto de onde tiro tanta energia… Procuro organizar o meu dia, e com a minha família é quando me sinto bem, com minha filha, só com seu sorriso quando chego em casa, alivia todas as minhas tensões. Não vejo como um interfere no outro, mas sei que temos que saber lidar com todas as situações do nosso dia a dia, tanto em casa como no trabalho, as vezes temos que ser tolerantes e por mais que a vida nos derrube, temos que confiar em Deus, se levantar e começar tudo novamente, afinal é errando que se aprende”.

Certamente as horas excessivas de trabalho promovem constante ausência das mulheres de sua casa, e, mesmo quando estão com a família, muitas vezes sofrem da “ausência psicológica”, que consiste no sentimento de estar presente, porém não disponível psicologicamente. (NETO, TANURE e ANDRADE apud EVANS E BARTOLOMÉ, 1980).

Comenta uma das respondentes, apontando para outro fato interessante, o de não olhar para si mesma, nem cuidar de si, ao doar-se em todos os outros papéis exercidos por ela:

“Acabo esquecendo que primeiro sou mulher e não me cuido como deveria, sempre colocando em primeiro plano casa e trabalho”

É curioso e importante pontuar aqui a questão de a mulher ter sido socialmente moldada para se responsabilizar pelo cuidado do outro, antes do cuidado de si mesma. Pode-se verificar também que existe uma culpa quando ela coloca a si mesma como prioridade antes do outro, conforme verificamos na fala citada acima.

A sociedade atual exige padrões mais difíceis de alcançar profissionalmente. Para entrar no mercado de trabalho, para se manter nele e conseguir atingir um padrão de vida confortável, são necessários esforços constantes, como estudo, treinamentos e aprendizagem.

Atualmente, a mulher luta por este espaço assim como o homem, devido à sua imersão no mercado de trabalho nas últimas décadas. Além desse esforço, existe ainda a preocupação social e estética, ou seja, “estar sempre bem vestida, com boa aparência e ter uma flexibilidade e manejo social para convivência no trabalho”.

Como percebemos na fala já mencionada, muitas vezes todas essas imposições sociais fazem com que esta mulher, já sobrecarregada, esqueça-se de cuidar de sua saúde mental e física.

A mulher atual se desdobra no trabalho e sofre com a sobrecarga imposta por ela mesma e por seus múltiplos papéis de mulher, mãe e profissional. Neste contexto familiar, a mulher é praticamente a única responsável pela administração da casa, das tarefas domiciliares e cuidados com os filhos. (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010).

Uma das respondentes comentou em sua resposta:

“O acúmulo e a sobrecarga de atividades infelizmente influencia na sua vida pessoal sim, trazendo mais canseira emocional e física e também o estresse”.

Diante deste quadro não é de se estranhar sintomas que favoreçam o estresse nestas mulheres, pois estas se veem cada vez mais insatisfeitas por não conseguirem equilibrar vida pessoal e profissional (NETO, TANURE e ANDRADE, 2010).

Além disso, o fato de ficarem sujeitas à dupla jornada favorece um dilema conflituoso entre casamento, filhos e demandas do trabalho, o que pode contribuir para um nível elevado de estresse. (SADIR, BIGNOTTO e LIPP, 2010). O conflito muitas vezes aponta para uma insatisfação na própria vida pessoal, sendo causada pelo trabalho e pela vida doméstica, como apontou esta mulher:

“Tem que tomar cuidado, pois o maior problema é você não ter vida pessoal! Os filhos e o trabalho consomem você por inteira!”.

Existem, porém, algumas mulheres que não sentem esta sobrecarga de forma tão abrupta, conseguindo lidar com estas situações:

“Não acho que interfira, tenho uma vida simplificada, não deixo de fazer nada por causa do trabalho ou por ser dona de casa. Estabeleço prioridades na minha vida”.

“Até certo ponto (atrapalha ser dona de casa e profissional), mas como sou solteira e tenho só um filho, então não tenho muitos problemas, às vezes atrapalha um pouco (o trabalho), mas consigo conciliar numa boa”.

Esta fala nos mostra que, mesmo sendo solteira, esta mulher tem uma dupla jornada em casa com seu filho e o trabalho, mas não deixa que isso a atrapalhe. O fato destas mulheres também estarem apontando que suas vidas estão equilibradas para o trabalho, vida doméstica e pessoal, nos faz pensar que existe uma parcela grande de pessoas que buscam uma qualidade de saúde mental e física para não sucumbirem ao estresse.

Este dado é interessante, uma vez que, embora seja alto o numero de mulheres que estão estressadas, sobrecarregadas e exaustas, existem aquelas que procuram determinar prioridades e organizar suas vidas.

Podemos inferir aqui também uma conformidade em relação a essa realidade, que pode trazer um sentimento de acostumar-se a essa rotina, amenizando muitas vezes os sintomas do estresse, ou até camufla-los. Podemos perceber isso em respostas como esta:

“Trabalhar, cuidar de casa, marido e filhos não é fácil, mas temos que conciliar”.

Conforme o gráfico 4, as entrevistadas possuem estabilidade profissional e direitos adquiridos, pois 95% destas possuem os devidos registros nas carteiras de trabalho e previdência social. Apenas uma respondente não tem registro em carteira, pois se trata de uma estagiária, sendo contratada em regime de contrato CIEE. A escolha de mulheres com registro em carteira foi por tratar-se de uma amostra mais segura, principalmente pelas faixas etárias, consideradas como mulheres adultas e responsáveis nos papéis adotados.

Gráfico 3

Gráfico 3

Gráfico 4

Gráfico 4

A amostra se constituiu de mulheres que estavam empregadas em empresas de grande porte, e, ao se perguntar sobre o tempo de vínculo empregatício, obteve-se que 35% das mulheres respondentes exercem a função entre 3 e 7 anos, 20% entre 7 e 15 anos, 20% entre 1 a 3 anos. As minorias apresentam experiência de 15 anos ou mais (15%) e de 0 a 1 ano (10%).

Em nossa hipótese, apontamos para o fato de que, quanto mais tempo de trabalho na empresa, mais estresse as mulheres poderiam ter desenvolvido. Essa hipótese não foi confirmada pelos resultados, os quais mostraram que diferentes níveis de sinais de estresse aparecem aleatoriamente ao longo do tempo nos sujeitos deste trabalho.

4.2 Aspectos do Estresse

Segundo SELYE (1936 apud Sadir; Bignotto), o estresse é uma reação do organismo frente às situações que exijam do indivíduo adaptações que vão além do seu limite. Baseado nestas definições, pode-se verificar o quanto o estresse pode afetar a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Por se tratar de algo que decorre da relação do indivíduo com o seu ambiente, nota-se que se este ambiente exige do trabalhador através de pressões, algo que ultrapasse as suas habilidades, temos como consequência um desgaste excessivo para o organismo.

Os resultados obtidos neste trabalho foram surpreendentes, uma vez que era esperado um alto grau de estresse nestas mulheres, através da análise dos questionários quantitativos e qualitativos. Ao se comparar estes dados quantitativos apresentados com os dados qualitativos, obtido através de entrevista sobre o que se entende por estresse, a maioria das entrevistadas disse tratar-se de um desgaste físico e mental. Além desses dois grandes fatores, elas também associaram a isso outros fatores similares, como dor muscular, perda de cabelo, falta de apetite e entre outras patologias. De uma maneira geral, pareceu haver um consenso entre fatores que as desestabilizam emocional e fisicamente por conta de um excesso de trabalho, de preocupações e de sintomas causados pelo próprio estresse, confirmando o que a teoria traz sobre o tema.

Por meio da análise, verificou-se que os sentimentos que permeiam o estresse, segundo as mulheres investigadas, são diversos. No entanto, dentro do que predomina, apontou-se para sentimentos como tristeza, irritação e vontade de chorar. As mulheres sentindo-se à beira do estresse, muitas vezes choram, sentem-se tristes ou irritadas.

Alguns fatores mais críticos, como irritabilidade, não foi apontado pela maioria e outros fatores, que foram determinados como altos, não são determinantes de estresse e podem ser inferidos como apenas sobrecarga de trabalho ou até mesmo uma falta de organização e preocupação com qualidade de vida. Os dados são apresentados de forma mais detalhada mais adiante, no gráfico 5.

Para Sadir, Bignotto e Lipp, apud Lazarus (1995), os sentimentos negativos geram tensões em decorrência de ansiedades, pessimismos, competições, levando às consequências físicas e psicológicas.

Quando questionadas sobre o fato de depender de outras pessoas no trabalho, verificou-se que a maior parte das entrevistadas necessita de apoio de outras pessoas para realização de suas tarefas diárias. A maior parte das respostas apontou para o fato de se sentir feliz trabalhando em equipe, demonstrando assim, que em nada atrapalha esse convívio e sim, contribui positivamente para o seu trabalho.

Gráfico 5

Gráfico 5

60% das mulheres responderam que não se irritam com facilidade com pessoas no seu dia-a-dia e 40% responderam positivamente a esse item.

O gráfico 5 nos mostra que a maior parte das mulheres não se sentem irritadas facilmente com as pessoas, indo ao encontro da ideia inicial do trabalho, com o objetivo de mostrar ou não se existe estresse no espaço laboral. Pode-se inferir que estas mulheres sentem-se irritadas, porém não demonstram tal sentimento, guardando esse sentimento para si mesmas, criando assim condições que facilitam o próprio estresse e seus sintomas, como doenças imuno-fisiológicas, que foram apontadas pela maioria das mulheres, de acordo com o gráfico 6.

O que nos faz inferir que é a presença da dupla jornada o motivo mais constante da formação da irritabilidade, fato notado de acordo com as respostas obtidas, são os sintomas que aparecem ao final do dia, no momento em que estão em contato com familiares e amigos, em suas residências.

Algumas falas das mulheres apontaram para estes sentimentos, quando foram questionadas sobre quais as sensações e sentimentos que já tiveram em relação ao estresse:

“Fico irritada, impaciente”. “Ansiedade, medo, frustração, dores no corpo”. “Medo, palpitação, sentimento de raiva, querer morrer pra acabar tudo”.

A grande maioria respondeu basicamente a mesma coisa, apontando sempre para os mesmos sentimentos de irritação, frustração e muitos outros sentimentos também presentes na depressão.

Gráfico 6

Gráfico6

Nesse contexto, verifica-se que as mulheres enxergam o estresse dentro da realidade, onde percebem as reais consequências de pessoas que chegam ao nível de esgotamento.

Refletindo-se sobre os acontecimentos que geram o estresse, verificou-se que a maioria das entrevistadas aponta para o desrespeito e para a falta de comunicação como estressores dentro do ambiente organizacional. Segundo Chiavenato (1999), diversos fatores podem levar ao estresse como: o autoritarismo do chefe, a desconfiança, as pressões e cobranças, a rotina de certas tarefas, o ambiente barulhento, a falta de segurança, a pouca perspectiva de crescimento profissional, além da insatisfação pessoal.

Existiram falas das mulheres que apontaram para este fator, quando questionadas sobre um acontecimento em seu trabalho que as fizeram sentir-se estressadas e irritadas:

“Pressão sobre um determinado trabalho, toda vez que tenho prazos curtos para a entrega de um determinado trabalho, isso me estressa muito”.

Sobre o tratamento e relacionamentos interpessoais, uma respondente apontou:

“Me sinto estressada no trabalho quando um cliente mal educado fala alto perto de outros funcionários”. “O acontecimento ou as situações que me irritam é a falta do comprometimento dos meus colegas com o trabalho, que de certa forma acaba atrapalhando o meu”.

O relacionamento interpessoal é fundamental no que concerne a qualidade do trabalho de um funcionário. Não somente a eficácia do trabalho é prejudicada, como o comprometimento do colaborado também é. Autores como Chiavenato (2009) trazem trabalhos sobre o comprometimento e comportamento organizacional, e como estes influenciam na produção.

Podemos fazer aqui uma conexão entre estes aspectos e as respostas da amostra, pois o comportamento do outro, do colega de trabalho afeta diretamente o funcionamento do trabalho delas, afetando a relação entre elas e estes e com os chefes.

Uma relação prejudicial, com falta de respeito, comprometimento e educação, que são bases para uma relação interpessoal organizacional, ocasionam irritabilidade, desanimo e comportamentos de má índole. Os resultados disso são chaves para determinar fatores de estresse e muitas vezes, um ambiente ruim de trabalho pode trazer consequências para a vida pessoal de um indivíduo.

Foram identificados ainda, de acordo com os gráficos abaixo, através de uma análise quantitativa dos dados, outros fatores estressantes apontados pela amostra. Fatores como dificuldade para dormir, cansaço e preocupações obtiveram altos escores no questionário aplicado, corroborando com a maioria dos sintomas já mencionados por vários autores como estressores, o que leva a considerar que estas mulheres sofrem estresse laboral, ou estão, pelo menos, sobrecarregadas com o trabalho.

Gráfico 7

Gráfico 7

Conforme o gráfico, 40% das mulheres respondeu ter dificuldades para dormir, e as que não possuem nenhuma dificuldade representam 60% delas.

Gráfico 8

A grande maioria das mulheres que responderam ao questionário acredita se sentirem cansadas ou tensas, representando 90% da amostra. Apenas 10% delas não se sentem assim.

Elas trazem a fala de cansaço junto com irritabilidade na maioria das vezes:

“Uma irritação muito grande com cansaço e desânimo”. “Cansaço, irritação, depressão”.

Gráfico 9

Gráfico 9

70% das mulheres alegaram sentir cansaço na parte da manhã, ao acordar, ao passo que 30% não.

Embora não existam respostas da amostra acerca destes aspectos, é um ponto importante e interessante o fato delas sentirem-se muito cansadas, principalmente de manhã.

Podemos inferir aqui que exista uma sobrecarga de trabalho intensa sobre elas, além das obrigações diárias e da própria dupla jornada, e que a preocupação em dar conta de todos esses aspectos atrapalha a qualidade do sono, fazendo com que elas sintam-se cansadas ao acordarem.

O desânimo frente a um dia de trabalho estressante pode determinar também o cansaço, principalmente na parte da manhã, diante de um dia inteiro de atividades.

Gráfico 10

Gráfico 10

80% das respondentes representam a parte da amostra que acredita ter preocupações demais, e 20% dessa amostra não possui essa percepção.

Para Sadir, Bignotto e Lipp, apud Freeman (1999), a sobrecarga de papéis também contribui para o estresse. Segundo Sadir, Bignotto e Lipp, apud Lipp (2005), são considerados também como estressores típicos dos trabalhadores a auto cobrança, falta de união e de cooperação entre equipes, além de salários insuficientes.

A grande maioria apontou para o fato de serem ativas física e mentalmente, justificando o cansaço e até mesmo dores musculares, como demonstrado no gráfico 12, onde se pode perceber que as costas são o ponto mais frequente de dor muscular. A maioria da amostra experimenta dores nas costas ao final do dia, representando 60% da amostra. Nuca e estômago também foram apontados por 20% da amostra, respectivamente.

Verificam-se essas características nas respostas das mulheres, em relação ao que elas entendem por estresse:

“Desgaste físico e mental, causado por alguns processos. É composto de um conjunto de reações fisiológicas que se exageradas, em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo”.

Gráfico 11

Gráfico 11

Gráfico 12

Gráfico 12

Grande parte da amostra indicou que são ativas física e mentalmente, representando 80% conforme o gráfico. Pode-se inferir, novamente, que as mulheres estão sendo sobrecarregadas com o trabalho e ainda outras atividades de sua vida, caracterizando aqui a dupla, inclusive.

Outros fatores foram apontados por uma minoria, mas ainda estavam presentes de forma significativa nas respostas, dentro dos fatores quantitativos levantados, como a dificuldade para se concentrar, onde 45% das respondentes possuem dificuldade para se concentrar, representando quase metade da amostra.

Gráfico 13

Gráfico 13

Conforme o gráfico 14, 40% das mulheres respondeu ter dificuldades para dormir, e as que não possuem nenhuma dificuldade representam 60% delas, representando uma minoria, mas bastante significativa.

Gráfico 14

Gráfico 14

Outro aspecto também questionado junto a esta amostra foi sobre a dificuldade ou facilidade de se lembrar de acontecimentos anteriores. Obteve-se que 65% das mulheres disseram que se lembram sem dificuldades, e 35% disseram o contrário. Novamente observa-se que existe esta dificuldade em uma amostra significativa, representando também um sintoma do estresse.

Segundo Sadir, Bignotto e Lipp, apud Lazarus (1995), o estresse ocupacional ocorre quando o indivíduo avalia as demandas do trabalho como excessivas para os recursos de que dispõe, no entanto devemos levar em consideração que nem todas as pessoas se desgastam com os mesmos estressores; o que vai determinar se o estresse irá se instalar, é uma relação do ambiente com as características individuais do trabalhador.

Sendo assim, verificou-se que, no entendimento da maioria das mulheres entrevistadas, o estresse tem como definição algo como um desgaste físico e mental, enquanto que outra parte o percebe como nervosismo, acúmulo de fatos negativos e excesso de trabalho.

Gráfico 15

Gráfico 15

40% das mulheres alegam sentir-se mais estressadas no período em que estão em casa, após o trabalho. 35% da amostra representa o número de mulheres que se sentem mais estressadas no trabalho, seguido de reuniões familiares, apontadas por 10% das respondentes.

Em relação ao momento mais estressante do dia, como se pode verificar no gráfico 16, “em casa, após o trabalho” foi o item que obteve o escore mais alto, seguido de “no trabalho”. Isso provavelmente se dá pelo fato de que em casa, as mulheres têm uma oportunidade de descansar e relaxar, e uma vez que não estão mais focadas em uma atividade, o corpo então passa a prestar mais atenção nos sintomas do estresse, o que não acontecera durante o dia, em horários de trabalho.

Uma das respondentes apontou para o fato de como o trabalho e a sobrecarga de atividade influencia em sua família:

“Até o momento que você procura um médico e fala que não aguenta mais o dia-a-dia, se estressa sem motivos, não se concentra direito no trabalho e quando chega em casa, não tem nenhuma vontade de fazer uma comida, limpar uma casa e dar atenção aos familiares”.

Alguns aspectos são interessantes e devem ser considerados, como os sintomas relacionados à tristeza, como vontade de chorar e até mesmo solidão foi mencionada. Estes sintomas e sentimentos estão muito mais relacionados a um quadro de depressão, atualmente bastante comum principalmente em mulheres, e que podem ser confundidos com estresse.

Quando questionadas sobre algum acontecimento que gerasse estresse no trabalho, curiosamente o item mais citado foi desrespeito, ou seja, quando uma pessoa toma alguma atitude que denota falta de respeito para com as mulheres que responderam ao questionário. Essa é uma situação frustrante, que geralmente causa raiva, e, portanto, é uma situação ligada aos sintomas mais agressivos do estresse.

“A falta de ética profissional, isso sim me deixa bastante chateada”.

Outro item citado foi o problema de comunicação, gerando frustrações. Outros itens relacionados que foram citados são maus tratos da chefia, desmotivação, desconsideração e insubordinação, sendo estes pontos ligados com o relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho. É importante ressaltar aqui a necessidade de estes pontos serem trabalhados pela organização para se evitar o estresse organizacional, através de trabalhos focados em qualidade de vida, seja por meio de atividades físicas laborais, psicologia laboral, palestras ou oficinas voltadas para a qualidade de vida.

Um item curioso citado foi “medo de enlouquecer”, apontando talvez para sintomas mais graves do estresse, como um estresse ocupacional profundo.

Sobre o fator dependência de outras pessoas, as mulheres da amostra s indicaram dados diferentes de acordo com a empresa aplicada. Em uma delas foi apontada a necessidade de paciência e respeito para lidar com os outros, o que corrobora a ideia mencionada anteriormente, uma vez que essas relações são estressantes.

Já na segunda empresa, todas as 10 mulheres encararam este fator como “normal” e tranquilo.

“Como todo processo dentro de uma multinacional, outras pessoas estão envolvidas. O meu sentimento em relação a isso acredito que seja normal, desde que essa outra pessoa não atrapalhe minha atividade”.

É importante que as instituições criem ambientes mais estáveis para prevenir esse tipo de estresse. Em uma das instituições estudadas neste trabalho, existe um programa de Ginástica Laboral, com um professor de educação física, que três vezes por semana visita cada um dos setores, administrativo ou operacional, para desenvolver atividades físicas simples, como alongamento e aeróbicas. Ele utiliza músicas e acessórios que existam no próprio local, criando um ambiente leve e divertido, trazendo assim benefícios não só para a saúde física, mas para psicológica também.

Nesta mesma instituição existe um programa de Psicologia Laboral, um trabalho feito pela psicóloga da instituição, com o intuito de criar um espaço clínico para atender a todo e qualquer colaborador que estiver passando por um momento difícil e precisar desta atenção. A ideia do programa é identificar, diagnosticar e ajudar estes colaboradores, através de um encaminhamento.

Existe uma ideia clara, apontada por várias as mulheres, de obrigação e até mesmo uma exigência pessoal que esta dificuldade da vida de jornada dupla deve ser superada, que vai de encontro com a teoria, mostrando que existe uma conformidade delas em relação à sua condição. Essa conformidade parece se traduzir em uma satisfação com relação ao trabalho exercido, uma vez que a grande maioria se sente estressada, com vários sintomas de depressão, mas não parecem atribuir isso ao trabalho em si, mas à situação em que vivem, enxergando isso como uma obrigação ou necessidade.

Um dos resultados mais interessantes encontrados nesta amostra foi seu conceito profissional, que parece ir de encontro às ideias mencionadas acima. A grande maioria das mulheres sente-se satisfeita com o trabalho que exerce. Apenas 10% delas sentem-se descontentes e 5% insatisfeitas por motivos próprios.

Gráfico 16

Gráfico 16

Segundo Stacciarini (2004) é cada vez mais recorrentes relatos de pessoas que dizem estar estressadas, sempre realizando estas associações com algo negativo, que atrapalha o desempenho e que causa desconfortos físicos e psicológicos, principalmente dentro do ambiente de trabalho, porém, de acordo com os resultados obtidos junto à amostra em questão, foi possível identificar um número de mulheres onde 40% indica grande sensação de bem estar na equipe, demonstrando assim que o grupo possui o poder se agregar valores ao trabalho, mesmo frente a adversidades que ocorrem no dia a dia das Organizações.

Cada indivíduo tem seu desenvol­vimento delineado por inúmeras possibilidades vinculadas ao tempo, ao contexto e ao processo (Elder, 1996; Hinde, 1992), exercendo a função primordial de agente de mu­dança e de transformação da sua própria história (Elder, 1996; Et. al).

Algumas respostas apontaram para um fator curioso, o “abandono de si próprio”, sendo esse o fator principal da interferência da vida de dupla jornada. O abando de si próprio é também uma característica da depressão, que pode vir do estresse, conforme comentado anteriormente. Muitas mulheres apontaram em suas respostas sobre deixar de cuidar de si mesma, não somente esteticamente, mas também mas na própria falta de tempo para lazer:

“(A vida de dona de casa e profissional) interfere na disponibilidade de tempo para outras diversões como lazer”.

Estudos de Lipp (2001) considera que, a irritabilidade causada pelo estresse ocupacional, consequentemente se estenderá aos demais indivíduos que o sujeito mantiver contato, não só no trabalho, mas com a família também, gerando relações tensas e conflituosas em âmbitos pessoais, considerando que 85% da mesma amostra demonstra satisfação no trabalho que realiza e em meios às equipes, mas organizações, o que nos esclarece que não necessariamente é o trabalho que provoca as sensações negativas e sim a soma de fatores que resulta em um final de dia mais cansativo e doloroso para estas que possuem o peso da dupla jornada, sendo que na mesma amostra, podemos considerar que estas são consideradas 80% como ativas física e mentalmente.

Pode-se aqui inferir que as mulheres sentem-se satisfeitas com seu trabalho, principalmente porque se sentem motivadas e com um sentimento de pertencimento. Uma vez que as mulheres têm um histórico de lutas para entrar no mercado de trabalho, hoje é visto como uma conquista ter um emprego, uma carreira e é um sinal positivo ter condições para lidar com uma vida de jornada dupla. Isso causa uma sensação de vitória, trazendo a satisfação. Mas é preciso ter um olhar cuidadoso com estas mulheres, que se sobrecarregam, mas deixam de cuidar de si muitas vezes.

5. Conclusão

O intuito desta pesquisa foi o de identificar os níveis de estresse feminino de acordo com as jornadas às quais as mulheres atuais estão submetidas, assim como as consequências destas jornadas no organismo destas profissionais, estudantes, esposas e mães de família.

Encontrou-se grande surpresa com os resultados obtidos a partir das respostas das entrevistadas envolvidas, pois foi identificado que o trabalho, além de trazer os resultados negativos já reconhecidos, como cansaço, preocupação, falta ou excesso de sono, entre outros, também nos colocou de frente a uma nova realidade deste grupo feminino.

Foi possível observar através dos resultados obtidos na amostra que existe uma sobrecarga de trabalho na vida destas mulheres, decorrente da dupla jornada, onde elas assumem os vários papéis de esposa, mãe, trabalhadora e principalmente de lutadora frente às adversidades do cotidiano. Pela dimensão e características deste trabalho, não foi possível generalizar resultados para a população, mas foi possível verificar que é uma característica própria de toda a amostra abrangida por esta pesquisa.

Embora essa sobrecarga seja identificada aqui como aspecto negativo, ainda não se pode afirmar que isso demonstre ou caracterize o estresse laboral, embora tenham sido obtidas respostas bastante positivas frente à realidade da dupla jornada.

Acredita-se que esta pesquisa tenha identificado uma nova fonte de satisfação interna para a classe feminina. As características identificadas mediante os resultados obtidos são demasiadamente importantes para a compreensão dos fenômenos observados, pois estas mulheres, além de apresentarem um estado físico e mental diferenciado, ainda alcançam melhor remuneração e status profissional diante da sociedade, o que também gera maior autonomia frente a uma vida diferenciada, em que a mulher se apresenta como um ser satisfeito, independente, o que gera maior perspectiva de futuro e, automaticamente, determinada rejeição aos papéis submissos anteriormente estabelecidos pela sociedade.

Esta fase da evolução social que estamos presenciando nos faz refletir sobre uma nova identidade feminina, onde o trabalho não gera a destruição e desistência da mulher frente à forte concorrência masculina, mas, como surpresa extremamente positiva a partir destes resultados, pôde-se identificar um novo modelo de força de trabalho, onde as descendentes do feminismo criam forças e passam a ser incrivelmente adaptadas às novas exigências de um mundo globalizado e em fase de reorganização.

Temos em mente que estas alterações adaptativas na mente feminina estejam apenas em fase inicial, pois é notável que o trabalho desenvolva maiores desejos de crescimento de forma generalizada e certamente o espaço feminino ainda merece muito respeito, considerando uma força de trabalho que acaba por tornar homogêneo o resultado de eficiência e sensibilidade nas organizações, assim como entre outros diversos espaços onde a atuação feminina cresce gradualmente.

Nossa pesquisa nos apresenta nesta fase a necessidade de maiores estudos, com âmbito mais focal aos dados que foram identificados nos resultados da amostra, para que se torne possível a caracterização dos sentimentos internos que geram força para a classe feminina diante das dificuldades diárias do cotidiano.

Justificamos a necessidade de maiores estudos a respeito dos fenômenos observados diante dos resultados adquiridos a fim de buscar maiores conclusões de conceitos que possivelmente auxiliam a classe de frente com as adversidades diárias, onde ficam nossos questionamentos em relação aos níveis de adaptabilidade do ser humano em situações de estresse.

Fonte: https://psicologado.com/atuacao/psicologia-organizacional/a-doenca-do-seculo-estresse-ocupacional-na-mulher-moderna © Psicologado.com

Share this Post: Facebook Twitter Pinterest Google Plus StumbleUpon Reddit RSS Email

Comments